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Humor que não ousa não presta por BÁRBARA GANCIA
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Humor que não ousa não presta por BÁRBARA GANCIA
31 de Julho de 2009
Humor que não ousa não presta
Retomo um pouco a conversa da semana passada sobre o Twitter para falar sobre o assunto do momento, o suposto ato de racismo cometido pelo comediante Danilo Gentili.
Na madrugada do último sábado, o integrante do “CQC” usou os 140 caracteres do Twitter para enviar a seguinte mensagem: “Agora no TeleCine King Kong, um macaco q depois q vai p/cidade e fica famoso pega 1 loira. Quem ele acha q é? Jogador de futebol?”.
Se o susto o fez cuspir o suco de laranja ou engasgar com a torrada do café da manhã, meu nobre leitor, melhor poupá-lo de maiores dissabores chamando atenção para o fato de que a associação entre o jogador de futebol negro e o macaco é sua.
O que Danilo ofereceu foi uma comparação entre um gorila famoso e uma estrela do esporte. Vai dizer que o King Kong não ficou famoso e se apaixonou por uma loira? Vai negar que jogador é conhecido e gosta de mulher que tinge o cabelo?
A resposta à provocação de Danilo foi imediata. Seu Twitter foi inundado por protestos e, acuado, o comediante achou melhor se explicar postando uma segunda mensagem: “Alguém pode me dar 1 explicação razoável pq posso chamar gay de veado, gordo de baleia, branco de lagartixa mas nunca negro de macaco?”. O argumento não fez a turma do politicamente correto arrefecer.
E a ela juntou-se o Ministério Público Federal, que veio a público para informar que a piada será alvo de uma análise. Isso, em si, já deveria fornecer material para vários shows de stand-up comedy: como pode a provocação infantilóide de um comediante virar alvo de uma investigação oficial? O que é isso, a Stasi? Stálin deve estar aplaudindo do além-túmulo.
Ao longo da semana, dois colunistas da Folha, Contardo Calligaris e João Pereira Coutinho, condenaram a cruzada moralista contra o premiê italiano Silvio Berlusconi. Não creio que exista no mundo uma descendente de italianos que tenha mais vergonha de Berlusconi do que eu. Mas o joguinho que o “L’Espresso” e o “La Repubblica” fazem contra o premiê é intolerável.
Se é para execrar Berlusconi, que ele seja condenado por usar a máquina governamental para favorecer seus negócios, não por dormir com esta ou aquela. Como diz o Contardo: “E eu com isso?”. O mesmo se aplica a Danilo ou a qualquer outro humorista da face da Terra. Quem não gostar da piada, que não dê risada, que seja indiferente, que vá comprar uma água de coco na praia e não se fala mais nisso. Agora, chamar a polícia?
Na segunda-feira, com a polêmica já instalada, em entrevista a Mauricio Stycer, do iG, Gentili afirmou: “O politicamente correto está deixando as pessoas idiotas”. O argumento não serviu para sensibilizar os ofendidos. A ONG Afrobras manifestou-se dizendo que cogita processar Gentili.
E, no seu blog, o comediante negro Hélio de la Peña aliviou, pero no mucho: “Não tenho problemas com piadas, desde que engraçadas. Não foi o caso. Associar o homem preto a macacos causa desconforto ao homem preto”.
O quê? Até o Hélio de la Peña, um dos meus ídolos? Que peña! Sinceramente, acho que é o caso de o pessoal dar uma arejada, ir ver o que está sendo feito em matéria de humor em outros lugares, assistir a “Brüno” de castigo umas 12 vezes, rever e reler Lenny Bruce, renovar um pouco o repertório e deixar de ser tão careta.
Bárbara Gancia
Humor que não ousa não presta
Retomo um pouco a conversa da semana passada sobre o Twitter para falar sobre o assunto do momento, o suposto ato de racismo cometido pelo comediante Danilo Gentili.
Na madrugada do último sábado, o integrante do “CQC” usou os 140 caracteres do Twitter para enviar a seguinte mensagem: “Agora no TeleCine King Kong, um macaco q depois q vai p/cidade e fica famoso pega 1 loira. Quem ele acha q é? Jogador de futebol?”.
Se o susto o fez cuspir o suco de laranja ou engasgar com a torrada do café da manhã, meu nobre leitor, melhor poupá-lo de maiores dissabores chamando atenção para o fato de que a associação entre o jogador de futebol negro e o macaco é sua.
O que Danilo ofereceu foi uma comparação entre um gorila famoso e uma estrela do esporte. Vai dizer que o King Kong não ficou famoso e se apaixonou por uma loira? Vai negar que jogador é conhecido e gosta de mulher que tinge o cabelo?
A resposta à provocação de Danilo foi imediata. Seu Twitter foi inundado por protestos e, acuado, o comediante achou melhor se explicar postando uma segunda mensagem: “Alguém pode me dar 1 explicação razoável pq posso chamar gay de veado, gordo de baleia, branco de lagartixa mas nunca negro de macaco?”. O argumento não fez a turma do politicamente correto arrefecer.
E a ela juntou-se o Ministério Público Federal, que veio a público para informar que a piada será alvo de uma análise. Isso, em si, já deveria fornecer material para vários shows de stand-up comedy: como pode a provocação infantilóide de um comediante virar alvo de uma investigação oficial? O que é isso, a Stasi? Stálin deve estar aplaudindo do além-túmulo.
Ao longo da semana, dois colunistas da Folha, Contardo Calligaris e João Pereira Coutinho, condenaram a cruzada moralista contra o premiê italiano Silvio Berlusconi. Não creio que exista no mundo uma descendente de italianos que tenha mais vergonha de Berlusconi do que eu. Mas o joguinho que o “L’Espresso” e o “La Repubblica” fazem contra o premiê é intolerável.
Se é para execrar Berlusconi, que ele seja condenado por usar a máquina governamental para favorecer seus negócios, não por dormir com esta ou aquela. Como diz o Contardo: “E eu com isso?”. O mesmo se aplica a Danilo ou a qualquer outro humorista da face da Terra. Quem não gostar da piada, que não dê risada, que seja indiferente, que vá comprar uma água de coco na praia e não se fala mais nisso. Agora, chamar a polícia?
Na segunda-feira, com a polêmica já instalada, em entrevista a Mauricio Stycer, do iG, Gentili afirmou: “O politicamente correto está deixando as pessoas idiotas”. O argumento não serviu para sensibilizar os ofendidos. A ONG Afrobras manifestou-se dizendo que cogita processar Gentili.
E, no seu blog, o comediante negro Hélio de la Peña aliviou, pero no mucho: “Não tenho problemas com piadas, desde que engraçadas. Não foi o caso. Associar o homem preto a macacos causa desconforto ao homem preto”.
O quê? Até o Hélio de la Peña, um dos meus ídolos? Que peña! Sinceramente, acho que é o caso de o pessoal dar uma arejada, ir ver o que está sendo feito em matéria de humor em outros lugares, assistir a “Brüno” de castigo umas 12 vezes, rever e reler Lenny Bruce, renovar um pouco o repertório e deixar de ser tão careta.
Bárbara Gancia
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