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Fragrância de Stella McCartney não deveria ser usada nem em xampus de drogarias
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Fragrância de Stella McCartney não deveria ser usada nem em xampus de drogarias
Em 2003, a estilista Stella McCartney lançou seu primeiro e epônimo perfume. As diretoras de criação Stella McCartney e Chantal Roos - a lendária executiva do mundo dos perfumes - trabalharam com o perfumista Jacques Cavallier para produzir Stella. Ele tinha uma beleza pálida, sombria, uma mistura de peônia e rosa que parecia, em seus primeiros momentos, uma estatueta romântica de John Keats [poeta inglês]: uma garota longilínea e graciosa, exalando o odor de flores delicadas, com aquele adorável toque dos botões quando começam a abrir, mais o cheiro do pó de arroz de uma atriz de Hollywood dos anos 30. Conforme começam a deteriorar, as rosas soltam um maravilhoso e pungente odor característico, e a moldura do antigo pó de arroz emoldura-no lindamente.
O perfume Sheer Stella 2009, de Stella McCartney
O perfume, no princípio, parecia fugaz (por isso que eu inicialmente não o entendi), quase intocável - a fragrância de uma ninfa em uma urna grega. Mas, na verdade, Stella trazia um surpreendente poder sobre a pele. Lembro de, por duas vezes, me aproximar de mulheres com o meu olhar desconfiado e característico de quando localizo uma fragrância que acho hipnótica e, irritado, não conseguir classificá-la. Ambas as vezes as mulheres me responderam que usavam Stella.
O que poderia controlar uma marca a ponto de destruir sua maravilhosa criação, a ponto de pedir que seu perfumista desenvolva um flanker como Sheer Stella 2009?
2009 é o último de uma série. YSL Beauté, licenciado por Stella McCartney, lançou iterações de Stella em edição limitada, um por ano, desde 2004. Metaforicamente, é como se alguém tivesse pego uma autêntica foto de cloreto de prata de Ansel Adams [fotógrafo americano], criado dez fotocópias - que sucessivamente foram perdendo a qualidade se comparadas à original -, e depois oferecido a versão final e absurdamente inferior aos colecionadores. Por quê?
A resposta é, claro, dinheiro. Basta usar nas edições limitadas matérias-primas mais baratas que as da versão original, baixando seu custo e proporcionando lucro rápido, pois o produto é vendido graças à boa fama de sua marca. Cada flanker deve gerar uma exaltação renovada, a decepção de 2005 desapareceu graças ao lançamento de 2006, que foi eclipsado pela empolgação com a versão de 2007, e assim sucessivamente. Mas dinheiro não é uma boa resposta. O consumidor eventualmente aprende a lição, e todo o seu lucro vai embora graças ao estrago causado à marca. É surpreendente que Chantal Roos e Stella McCartney tenham pedido para que isso acontecesse.
Eu não havia sentido o cheiro de nenhuma dessas edições até abrir o frasco da última em meu escritório. Sheer Stella 2009 apresenta notas de saída que não trazem nenhuma originalidade, mas ali ele é adorável, uma das melhores introduções comerciais que surgiram recentemente. E é "comercial" no melhor dos sentidos: uma peônia-rosa cintilante, suculenta, com tons de grapefruit.
Então, depois de quatro minutos, ele se rompe. Pessimamente. Pode-se sentir o mergulho para uma rosa química, um grapefruit químico, uma peônia contraída pela adstringência química. Meu assistente, atônito, disse: "É como se ninguém tivesse testado isso na pele".
Será que 90% da fórmula se reduz a uma série particularmente barata de materiais sintéticos? Será possível que a Firmenich, empresa empregadora de Cavallier [o perfumista Jacques Cavallier] e uma companhia que produz materiais extremamente requintados, produza algo desse tipo? Será que este é o perfume mais insolente e cínico que já foi produzido, com um acorde de saída desonesto, que pisca para você exatamente durante o tempo de passar no caixa, para depois implodir em seu punho?
Sheer 2009 é uma fragrância que não deveria ser usada nem em xampus de drogarias. Se mais alguma dessas criações surgir, o Stella original vai emitir um pungente odor de deterioração, apodrecer e desaparecer. Mas a indústria passou de cinquenta para mil o número de lançamentos de perfumes por ano - um fluxo insustentável e desordenado de novidades, geralmente impulsionados não por investimentos sérios e de longo prazo em perfumes de qualidade, mas por marketing e por momentos de puro desespero.
Enganar o volátil mercado de 30 bilhões de dólares para obter sucesso e lucro rápido atinge a própria indústria, já que ela está sendo enganadora e desonesta consigo mesma. Cada flanker é construído a partir da farsa anterior, passando a impressão de crescimento mesmo enquanto a estrutura vai cavando um buraco por baixo. É, resumindo, um esquema de Ponzi [operação fraudulenta do tipo pirâmide] olfativo. E Sheer Stella 2009 é o Bernie Madoff [autor do maior golpe financeiro da história] dos perfumes.
Sheer Stella 2009
Stella McCartney
sephora.com
Tradução: Erika Brandão
Fonte: Uol Estilo
O perfume Sheer Stella 2009, de Stella McCartney
O perfume, no princípio, parecia fugaz (por isso que eu inicialmente não o entendi), quase intocável - a fragrância de uma ninfa em uma urna grega. Mas, na verdade, Stella trazia um surpreendente poder sobre a pele. Lembro de, por duas vezes, me aproximar de mulheres com o meu olhar desconfiado e característico de quando localizo uma fragrância que acho hipnótica e, irritado, não conseguir classificá-la. Ambas as vezes as mulheres me responderam que usavam Stella.
O que poderia controlar uma marca a ponto de destruir sua maravilhosa criação, a ponto de pedir que seu perfumista desenvolva um flanker como Sheer Stella 2009?
2009 é o último de uma série. YSL Beauté, licenciado por Stella McCartney, lançou iterações de Stella em edição limitada, um por ano, desde 2004. Metaforicamente, é como se alguém tivesse pego uma autêntica foto de cloreto de prata de Ansel Adams [fotógrafo americano], criado dez fotocópias - que sucessivamente foram perdendo a qualidade se comparadas à original -, e depois oferecido a versão final e absurdamente inferior aos colecionadores. Por quê?
A resposta é, claro, dinheiro. Basta usar nas edições limitadas matérias-primas mais baratas que as da versão original, baixando seu custo e proporcionando lucro rápido, pois o produto é vendido graças à boa fama de sua marca. Cada flanker deve gerar uma exaltação renovada, a decepção de 2005 desapareceu graças ao lançamento de 2006, que foi eclipsado pela empolgação com a versão de 2007, e assim sucessivamente. Mas dinheiro não é uma boa resposta. O consumidor eventualmente aprende a lição, e todo o seu lucro vai embora graças ao estrago causado à marca. É surpreendente que Chantal Roos e Stella McCartney tenham pedido para que isso acontecesse.
Eu não havia sentido o cheiro de nenhuma dessas edições até abrir o frasco da última em meu escritório. Sheer Stella 2009 apresenta notas de saída que não trazem nenhuma originalidade, mas ali ele é adorável, uma das melhores introduções comerciais que surgiram recentemente. E é "comercial" no melhor dos sentidos: uma peônia-rosa cintilante, suculenta, com tons de grapefruit.
Então, depois de quatro minutos, ele se rompe. Pessimamente. Pode-se sentir o mergulho para uma rosa química, um grapefruit químico, uma peônia contraída pela adstringência química. Meu assistente, atônito, disse: "É como se ninguém tivesse testado isso na pele".
Será que 90% da fórmula se reduz a uma série particularmente barata de materiais sintéticos? Será possível que a Firmenich, empresa empregadora de Cavallier [o perfumista Jacques Cavallier] e uma companhia que produz materiais extremamente requintados, produza algo desse tipo? Será que este é o perfume mais insolente e cínico que já foi produzido, com um acorde de saída desonesto, que pisca para você exatamente durante o tempo de passar no caixa, para depois implodir em seu punho?
Sheer 2009 é uma fragrância que não deveria ser usada nem em xampus de drogarias. Se mais alguma dessas criações surgir, o Stella original vai emitir um pungente odor de deterioração, apodrecer e desaparecer. Mas a indústria passou de cinquenta para mil o número de lançamentos de perfumes por ano - um fluxo insustentável e desordenado de novidades, geralmente impulsionados não por investimentos sérios e de longo prazo em perfumes de qualidade, mas por marketing e por momentos de puro desespero.
Enganar o volátil mercado de 30 bilhões de dólares para obter sucesso e lucro rápido atinge a própria indústria, já que ela está sendo enganadora e desonesta consigo mesma. Cada flanker é construído a partir da farsa anterior, passando a impressão de crescimento mesmo enquanto a estrutura vai cavando um buraco por baixo. É, resumindo, um esquema de Ponzi [operação fraudulenta do tipo pirâmide] olfativo. E Sheer Stella 2009 é o Bernie Madoff [autor do maior golpe financeiro da história] dos perfumes.
Sheer Stella 2009
Stella McCartney
sephora.com
Tradução: Erika Brandão
Fonte: Uol Estilo
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